Sócrates adotava sempre pelo diálogo, costumava iniciar uma conversação fazendo perguntas e obtendo dessa forma opiniões do interlocutor, que ele aparentemente aceitava. Depois, por meio de um interrogatório hábil, desenvolvia as opiniões originais da pessoa, mostrando a tolice e os absurdos das opiniões superficiais e levando e presumido possuidor da sabedoria a se desconcertar em face das conseqüências contraditórias ou absurdas das suas opiniões originais e a confessar o seu erro ou a sua incapacidade para alcançar uma conclusão satisfatória. Esta primeira parte do método de Sócrates destinada a levar o indivíduo à convicção do erro é a ironia. Depois, continuando a sua argumentação e partindo da opinião primitiva do interlocutor desenvolvia a verdade completa. Sócrates deu a esta última parte a designação de maiêutica - a arte de fazer nascerem as idéias. É este o método que encontramos amplamente desenvolvido nos diálogos socráticos de Platão.
Há nos relacionamentos muitas informações que transmitimos para as pessoas com quem convivemos. Observemos se o que informamos amplia os laços de amizade e faz nossa convivência produtiva e com propósito de beneficiar não só aqueles que pertencem ao círculo de convívio, mas também outros que tenham conhecimento do que divulgamos. O Ideal seria se usássemos o ensinamento de Sócrates para aprimorar nossas relações de convívio com familiares, parceiros no ambiente de trabalho e outras pessoas nas mais diferentes situações de vida em sociedade.
Um dia, um conhecido do grande filósofo aproximou-se dele e disse:
- Sócrates, sabe o que eu acabei de ouvir acerca daquele teu amigo?
Então, Sócrates respondeu:
- Espere um momento. Antes que me digas alguma coisa, gostaria de te fazer um teste. Chama-se o "Teste do Filtro Triplo".
- O que e isso, Sócrates?
- Antes que me fales do meu amigo, talvez fosse uma boa ideia parar um momento e filtrar muito bem aquilo que vais dizer. A isso chamo de Filtro Triplo.
E continuou:
- O primeiro filtro é a VERDADE. Tens a certeza absoluta de que aquilo que me vais dizer é perfeitamente verdadeiro? O homem, balbuciante, respondeu:
- Não, o que acontece é que eu ouvi dizer que...
E Sócrates fuzilou:
- Bem, se é assim, não sabes se é VERDADE. Passemos então ao segundo filtro, que é a BONDADE. Responda-me agora: o que me vais dizer sobre o meu amigo é algo bom?
- Não, muito pelo contrário...
- Então, queres dizer-me algo mau sobre ele e, ainda por cima, nem sabes se é ou não verdadeiro. Mas, bem, pode ser que ainda passes pelo terceiro filtro, que é a UTILIDADE. Por isso, me esclareça: o que me vais dizer sobre o meu amigo será útil para mim?
-Não, acho que não...
E assim Sócrates concluiu:
- Bem, se o que me dirás não é nem bom, nem útil e muito menos verdadeiro, para que dizer-me.
USO DO FILTRO
O ensinamento de Sócrates pode ser utilizado para filtrar o que as pessoas queiram nos dizer ou o que queremos dizer aos outros.
O que dizer pode representar questões pessoais ou episódios que tomamos conhecimento pelos mais diferentes meios de divulgação social.
Aplicar o filtro no que as pessoas queiram dizer poderá representar constrangimentos. Alguém chega e diz:
-- Quero lhe contar tal coisa.
-- Espere um pouco agora vou aplicar o exame do triplo filtro de Sócrates.
A conversa ficará um tanto quanto truncada e é até possível que a pessoa fique aborrecida. Se for alguém mais próximo, alguém com quem tenhamos um relacionamento próximo e franco, até pode ser.
A maior contribuição desse ensinamento diz respeito àquilo que pretendemos falar aos outros. Sobre isso temos total controle, não irá causar nenhum tipo de constrangimento e tampouco a pessoa que irá ouvir aquilo que dissermos terá a possibilidade de saber do uso do triplo filtro.
FILTRAR O QUE DIZER AOS OUTROS
Sócrates disse: tens a certeza absoluta de que aquilo que me vais dizer é perfeitamente verdadeiro?
Sempre que formos dizer alguma coisa sobre alguém é bastante interessante verificar se o que queremos dizer é verdade. Até que ponto a informação é verídica e não simplesmente cogitações ou meras suposições que possam estar circulando. Pior quando não passam de fofocas ou boatos.
Se chegarmos à conclusão que não há certeza absoluta sobre a verdade do que queremos dizer é melhor se calar, tampouco há necessidade de continuar com os demais filtros. Admitamos que depois de considerarmos o filtro da verdade concluamos não haver nenhuma dúvida depois de cuidadosa consulta a diversas fontes confiáveis. Nesse caso, aplicaremos o segundo filtro recomendado por Sócrates, o da bondade.
Sócrates disse: responda-me o que vais dizer sobre o meu amigo é algo bom?
A bondade deve beneficiar aquele que é objeto da informação. Se representar dificuldade para a pessoa, como prejudicar a consideração que tenha no meio em que viva, deixemos de repercutir a informação.
Quando há bondade a informação destaca aspectos positivos que favorecem. A crítica interessada em divulgar aspectos negativos deve ser considerada como ausência de bondade.
Admitamos que a informação passe pelo crivo da verdade, passe também pelo crivo da bondade, pois a divulgação pode favorecer a pessoa focalizada, restará verificar se passa pelo terceiro filtro, o da utilidade.
Sócrates disse: o que me vais dizer sobre o meu amigo será útil para mim?
Se tivermos certeza que o que oferecemos como uma informação tenha utilidade e que a pessoa até agradeça, falemos. Mas calemos quando a informação não reunir nenhuma utilidade, será apenas perda de tempo.
As oportunidades que temos para conversar com as pessoas são momentos preciosos, melhor preenchermos essas possibilidades com atitudes construtivas, ofereçamos sempre contribuições de valor.